Segue abaixo, a íntegra do discurso em que o deputado condena a tentativa do governo de chantagear o Grupo Bandeirantes para impedir, sem sucesso, a publicação da última pesquisa Methodus, que aponta vantagem de 11,4 pontos de Ana Amélia para o sobre o segundo colocado."Queria lamentar o que aconteceu esta semana, num dos maiores gestos contra a liberdade de expressão de que já tive notícia. Só não entendi o porquê não houve eco maior dos órgãos de imprensa deste Estado e País pelo fato ocorrido. E não acredito que isso foi uma disputa de marcas de canais de comunicação. Acredito que isso aconteceu por medo, que é representado pela imposição da força do dinheiro para todo mundo ver.
Srs. Jornalistas, jovens jornalistas, experientes jornalistas, tentaram, sim, calar a boca de vocês em troco da força do dinheiro público! Olha, se colocares a pesquisa, não terás mais aquilo que vinhas recebendo.
Essa é a simplificação do fato de quem tentou calar a boca de um órgão sério de imprensa, como de resto eu acredito que todos são. Lamentável.
Não falo aqui porque o meu partido está na frente das pesquisas, nós sabemos que isso pode ser algo do momento; eu falo aqui porque vamos ter sucessões de momentos – assim como tivemos sucessões passadas – de outros pontos de busca de informação sobre a vontade democrática dos cidadãos brasileiros que têm direito ao voto, de saber para onde gostariam que o seu Estado, o seu País e o seu parlamento pudessem chegar.
O que aconteceu ontem – quem não viu eu aconselho que busque a informação na Internet, porque é onde se está conseguindo ver e que foi publicado no jornal Metro – explicitamente foi um recado de dentro do Palácio Piratini, de alguém que é pago pelo dinheiro público, a um diretor de um órgão de comunicação, dizendo: Olha, veja bem o que você vai fazer, porque se tu divulgares isso, mais tarde as nossas relações não ficarão as mesmas. Com que direito fazem isso?
Eu fico impressionado porque o Partido dos Trabalhadores sempre levantou essa bandeira, de ser o defensor da liberdade de expressão, pelo menos para todos verem, não que de fato pensavam assim ou pensam assim agora. Imagino que definitivamente não pensam assim.
Eles pensam que o poder é para ser usado na plenitude e em todos os casos, inclusive para podar a liberdade dos outros, e é isso que não podemos deixar que aconteça.
É uma tentativa de podar a liberdade das pessoas se manifestarem quando não estão a favor, quando não estão gostando, quando querem mudar, quando não acham que está bem, que o Rio Grande precisa mais, que o Brasil precisa mais. Aí, com o dinheiro público arrecadado de todos, usam o governo de plantão para tentar calar a boca de um órgão de imprensa.
Isso é vergonhoso! Isso tem que ser, sim, investigado a fundo.
Em resposta, hoje, num dos canais oficiais – se não era, falava em nome do Palácio –, veio um contraveneno. Aí fiquei mais preocupado.
Sabe o que diz o contraveneno? O contraveneno foi uma outra mensagem, de um tempo atrás, na qual, na interpretação de quem colocou, estava sendo o governo chanteageado.
Aí fico duplamente preocupado. Ao mesmo tempo em que foi lá e botou a faca no pescoço do órgão de imprensa para não divulgar uma pesquisa, para podar a liberdade da expressão – inclusive de uma pesquisa que foi publicada num órgão da Justiça que diz que tem de ser assim, publicaram no Tribunal Regional Eleitoral. Está lá para quem quiser questionar. Se não tivesse feito isso, não teria o direito de publicar a pesquisa. E publicaram a pesquisa correndo o risco de alguém, se quisesse, ir lá e pegar os detalhamentos da forma como foi praticada a pesquisa em campo e entrado na Justiça se, porventura, notasse algum tipo de falha no instrumento ou na forma como a pesquisa foi feita. E não observaram nada de errado, porque, senão teriam feito pelo canal normal, que é a Justiça. Foram para a imposição, para empurrar goela abaixo, para chanteagear, para dizer: Olha, não coloca senão tu vais te ver comigo.
Onde estamos? É esse o Rio Grande que queremos? Dominado por gente que faz esse tipo de coisa?
O segundo momento foi quando li o seguinte: foi divulgada uma outra mensagem de uns tempos atrás falando com o diretor desse mesmo órgão de comunicação e que daria a entender que esse diretor estaria se incomodando com o governo por não estar repassando recursos públicos para o órgão esse de comunicação conforme deveria repassar.
Portanto, imaginando – quem colocou essa segunda notícia – de que a chantagem seria ao inverso: que o órgão de imprensa estaria fazendo chantagem com o governo, pedindo mais dinheiro, senão iria parar de divulgar as coisas de interesse do Estado.
Então, são duas ações lamentáveis, a de querer calar a boca, tirando a liberdade do que é justo, porque está registrado, – se não é justo, os direitos têm de ser buscados por aqueles que são contrários ao resultado final – e a de acusar o diretor da Bandeirantes de tentar chantagear o governo em troca de mais dinheiro.
Assim, devem estar fazendo com outros órgãos de imprensa, imaginem os nossos pequenos no interior. Se fazem isso com um canal nacional, o que não estão fazendo com outros canais, com as rádios e jornais do interior? Ora, ou tu bota ou tu não leva.
Isso é, na verdade, uma tentativa de botar mordaça na imprensa, coisa que sempre disseram que não deveria acontecer. E não sou eu que está dizendo, deputado, está aqui, um assessor seu lá do Palácio que mandou isso para o diretor. Saiu na TV.
É uma vergonha, meu presidente, repare que isso é uma vergonha! Isso é uma vergonha!
Assistia dia desses a um vídeo do pastor Silas Malafaia, o qual aconselho a todos assistirem. Acredito que é um dos momentos mais racionais que já vi de uma reflexão sobre aquilo que deveria ser feito, sobre o poder que se impôs hoje no Brasil, há mais de oito anos.
Se falam em ditadura, se gostam muito de falar do tempo da ditadura, digo que a ditadura maior é a que está se impondo agora, é esse modelo que está posto. É a ditadura que o PT gosta de enaltecer, já colocada em prática em Cuba e, tenta-se, na Venezuela.
Na verdade, o PT e o governo gostam, mas há gente que gosta de mais coisas. Mas o modelo é este: calar a boca daqueles que pensam diferente daquilo que os senhores pensam e gostam.
É lamentável, porque é um fato ocorrido. Não estou falando de algo que ouvi dizer; estou falando do que vi e li. Não sei qual foi a atitude oficial do governo, mas, pelo que li, a versão oficial é que a pessoa que fez a afirmação teria dito que não era bem aquilo que queria dizer, que foi mal interpretada. E ainda aproveitou para dizer que do outro lado aconteceu o mesmo.
Sr. Presidente, faço este registro e solicito a V. Exa. a inserção nos anais da Casa da matéria publicada hoje na página 2 do jornal Metro. O mesmo tema está no vídeo da Rede Bandeirantes para todo mundo ver. Inclusive o âncora disse: Dá licença, Sr. Governador. Não ache o senhor, que aqui vamos calar a boca por dinheiro.
Parabéns ao Grupo Bandeirantes. Muito obrigado."
DEPUTADO FREDERICO ANTUNES
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